domingo, outubro 28

Memórias...



Tinha eu 9 anos de idade,quando fui a um certo jogo fora de "casa",levado pelo meu pai,um tio e os respectivos filhos..à parte de nós,ia o meu irmão.
Agarramos no carro e lá nos metemos estrada fora,para ir ver o nosso clube jogar.
Era uma romaria como as que só antigamente se conseguia encontrar...era pura festa,familias no futebol,domingo de tarde ensolarada,era aqueles dias e as férias escolares o melhor que me poderiam oferecer.
Aparato policial,sinceramente nem me recordo,não que não existisse,mas na altura não ligava propriamente a gajos de farda azul e estava também extasiado com a maré humana e os sons e cores que por ali abundavam.
Eis que então,começam a chegar alguns autocarros,que vejo de lá saírem bandeiras gigantescas,bandeiras que nunca na vida tinha visto ali tão próximas de mim...eram imponentes..fileiras de jovens a saírem dos autocarros,entoando cânticos com uma força,que parecia que haviam de comer tudo e todos..começaram-se a formar e subitamente,a maré como que se abriu,tudo a "contemplar" aquelas fileiras que se aglomeravam.
Não paravam de se juntar,já não era um grupo..era um exército ali formado,pronto para tudo,a bradarem alto o nome do clube,cânticos referentes à sua identidade enquanto claque,a agitarem aquelas bandeiras...
Lembro-me de ficar de boca aberta a olhar para aquilo,era...impressionante..o meu primo mais novo (sensívelmente da minha idade) pergunta ao meu pai "tio,aqueles senhores estão zangados ? Estão a gritar tanto.." - A resposta do meu pai surpreendeu-me ainda mais : "Não,são os Ultras,uma claque de apoio ao clube" - Fiquei perplexo "Ultras?" era algo novo para mim,nunca tinha ouvido esse termo..Eis que de entre o exército de "Ultras" vislumbro o meu irmão e fiquei ainda mais surpreendido "Ó pai ó pai,o mano foi apanhado pelo rio de pessoas" - O meu pai riu-se e disse - "Não,o mano está ali,porque foi com aqueles amigos que ele veio,ele faz parte da claque" - Foram revelações para mim "Ultras? O meu irmão é duma claque ?".
Eventualmente lá coloquei este assunto de parte,entramos para o estádio,peço uma coca-cola e lá me vou sentar...reparo que a claque estava a entrar para a mesma zona onde estavamos,o meu irmão lá aparece passado uns minutos,cumprimenta os meus primos e o meu tio e diz-me "vá puto,hoje tens de gritar pelo clube,ele precisa de ti,se gritares bem alto,vais ver que te ouvem pedir a vitória e alcançam-na por ti" - Foram palavras que inconscientemente me foram ficando guardadas - e lá seguiu novamente para o meio do ajuntamento.
Com o apito inicial,veio o barulho infernal,não se calavam um instante,sempre com cânticos incessantes,com tambor..pensei "Parece que se parassem de cantar,que o coração deles parava de bater",o meu primo mais novo volta a perguntar,desta feita ao seu pai - "ó pai,mas eles nunca se calam?" - "Raramente" replicou o meu tio e de facto,raramente o fizeram...aliás,o meu irmão volta e meia lá passava para dizer algo ao meu pai e ele próprio me disse quando lhe repeti essa pergunta "Calamo-nos só um bocadinho,para recuperar fôlego...vá canta também" e lá ia novamente para a balbúrdia instalada..
Com o aproximar do fim do jogo e com aquele resultado tão odiado por todos (um empate a zero),o desespero assolava maioria dos adeptos,maioria?Bom,o raio dos "ultras" parece que não se apercebiam que era fundamental ganharmos,"será que são masoquistas?Que são parvos?Que não sabem ver que o marcador tá em branco?",pensava eu,é que eles continuavam a cantar como se fosse uma festa,como se tivessemos a golear,continuavam a apoiar,apesar de ser nítido que alguns em campo já só corriam quando a câmera de tv os focava..O meu irmão volta a passar e quando interrogado por mim,responde : "É a paixão puto,a loucura,se nós nos rendermos,então aí é que aqueles no relvado baixam os braços,lutamos mais por eles,que eles por nós".
Comecei a deixar-me apossar pelo nervosismo..e num lance,por instantes a claque silenciou-se,tudo expectante e de olhos no relvado...alguém,decide lançar o nome do clube como mote para um "cântico de guerra" e alastrou-se pela bancada,eu e os meus primos não fomos excepção,berrámos a pulmões abertos o seu nome,parecia que agora todos nós tinhamos de o fazer para o coração bater...a adrenalina daqueles instantes,fez-me sentir...poderoso,parte de algo,capaz de alterar algo,de ajudar a modificar a situação,de extravasar aquela ansiedade e raiva acumulada..e eis que surge o grito mais ansiado por todos nós "GOLOOOOOOO",o alívio,a festa,as vozes incessantes a cantarem o nome do clube.
Naquele dia,quando cheguei a casa,vendo o meu irmão,com a voz já meio trémula,perguntei : "mano,deixas-me fazer parte da tua claque?" - ele sorriu e apenas disse "daqui a uns anos puto,só mais uns anitos...."...

sábado, outubro 20

Saber separar as águas..


Todos os Homens são animais políticos,é um facto,todos nós temos as nossas convicções,as nossas ideias,todos procuram debater e encontrar as melhores formas de gerir a vida individual e colectiva das pessoas enquanto parte da sociedade,procuram solucionar os problemas económico-sociais com que o mundo se depara e o dia a dia apresenta.
Estas convicções são indissociáveis das nossas pessoas,da nossa forma de ser e estar no mundo..chegam a ser intransigentes.
No mundo destas ditas "tribos urbanas",no mundo das curvas,a política tem sido um aspecto invasivo,no sentido de se manifestar fortemente na forma de ser dos grupos enquanto claques de apoio..Grupos de extrema-esquerda,de extrema-direita,grupos anarco-liberais,enfim,existe de tudo.
É compreensível que individualmente cada um de nós mantenha essas convicções e obviamente que no nosso dia a dia,elas não se desvanecem,fazem parte da nossa forma de pensar...porém,não fará tanto sentido andar a promovê-las num meio que se pretende isento,deslocado dessas questões,um mundo de grande relevância social é certo,mas que se deseja imaculado,no sentido de não deixarmos que factores externos deturpem ainda mais,o pouco que nos resta.
Existirem pessoas de certa convicção política que formem um grupo unânime nessa abordagem social,é aceitável,se tivermos a falar de grupos de apoio político,como são exemplo dos blocos partidários (PSD,PS,CDU,CDS,BE,PNR,Verdes,etc...).
Mas criar um grupo desta índole e levá-lo para uma curva ? Admito que possam partilhar das mesmas preferências clubísticas e crenças políticas,mas misturá-las não me parece já tão sensato.
Muito se tem visto disto,grupos que se destacam maioritariamente ou somente pela sua abordagem política,pelas suas críticas políticas,mais do que pelo seu aspecto de suporte desportivo,que pelo seu apoio ao clube.
Termos um grupo que promova a política esquerdista radical ou direita radical no seio duma curva,é o mesmo que tentarmos espalhar a fé cristã numa curva..imaginem só,chegara um grupo de 30 pessoas,integrantes duma claque,cuja convicção religiosa é o cristianismo e servem-se da curva para angariar "fiéis",seguidores da sua "palavra",entrarem em guerra com outros membros que na claque pudessem existir,não por serem "infiltrados",não por não partilharem da paixão,mas por serem "muçulmanos" ou "Budistas"..Começavam então a levar estandartes com a imagem de Cristo,Faixas com o nome de Santos ou Papas,Frases com passagens bíblicas...
Rídiculo?E Política não?
Nas curvas queremos "Supporters",não queremos publicistas de causas próprias,acreditem nelas,sigam-nas,defendam-nas,mas não as impinjam num local que se quer "sagrado" em termos de apoio,um local que se pretende em sintonia e uníssono,com uma só voz e uma só crença : A Paixão ao seu clube !
Senão,qualquer dia abriam urnas nas curvas e os líderes partidários,em época de eleições,começavam a fazer campanhas políticas nas curvas,como já as fazem nas feiras populares.
Quando se quer comer,vai-se a um restaurante,quando se quer meter combustível no veículo,vai-se a estação de serviço,quando se quer dançar,vai-se a uma discoteca,quando se quer estudar,vai-se a um instituto escolar,quando se quer jogar futebol,vai-se a um campo de futebol,quando se quer abordar ideias políticas,vai-se a comissios...e quando se quer apoiar um clube,vai-se ao estádio,às curvas deste...se eu não vou para os comissios gritar pelo meu clube,porque raios ainda há quem insistia em ir p'rás curvas gritar pelo seu partido ?
Eu sei que com os tempos e tendências,as curvas viraram centro de atenções e um meio público e livre onde pudemos fazer uso da nossa liberdade de expressão,que há questões relativas ao mundo das claques,questões cuja natura é até política,mas isso,prende-se com o facto de serem relativas ao mundo das claques,é algo relacionado..de resto, não exageremos..não façamos da curva um sindicato.

quinta-feira, outubro 18

Evolução ?


"Luta contra o futebol moderno" - Expressão cada vez mais recorrente no contexto social das curvas,exprime-se pela indignação,inconformismo e revolta dos Ultras e Casuais relativamente ao caminho que o Futebol tem seguido,um caminho de industrialização.
Hoje o futebol é uma industria que alimenta o mais variado tipo de empresas,a título de exemplos,podemos ver algo que nos ultimos anos tem se tornado habitual,banal..a cotação dos clubes nas bolsas de valores,lado a lado com sociedades de fins meramente lucrativos.O aparecimento de investidores que se apropriam dos clubes,como quem se apropria de um bolo pago no café...O aparecimento de Fundos de Investimento que compram os passes de jogadores e ficam seus titulares,afim de lucrarem com uma possível venda desse jogador a algum grande clube.O aparecimento de canais televisivos de "pay per view" que procedem às transmissões incessantes de tudo o que seja jogo de futebol,tentando daqui extrair o máximo de assinantes possíveis (entrada de capital nos seus cofres) e competir nas ditas guerras de audiência (mais capital em jogo).
Isto,são apenas alguns dos reflexos desta "evolução" do futebol,um futebol moderno de facto,pouco ou nada a ver com o contexto que originou este mundo desportivo,aliás,basta recuarmos aos anos de fundação de maioria dos clubes.
Formados em épocas onde os valores sociais eram outros,onde o futebol começava a dar os primeiros passos e era visto como uma mera forma de entretenimento,onde a formação de clubes desportivos consistia em facultar às pessoas,o acesso à prática desportiva...sócios atletas,atletas dirigentes,clubes quase sem meios,mas com uma pureza que hoje se desvanesceu.
Em mais de 100 anos,o futebol sofreu mutações radicais,tomando um caminho que cada vez mais o afasta das suas raízes.
Mas até nesta luta,a expansão capitalista tem dado que falar,"Não ao futebol moderno" mais que um mote,um movimento,em alguns casos,virou Marca..é mais uma forma de comercializarem-se t-shirt's,casacos,caxecóis,seja o que for...também é frequente assistirmos ao uso desta "luta",por parte de alguns grupos,em alturas mais conturbadas dos mesmos,para tentar sacudir a água do capote,ou seja,tentar afastar o foco das atenções nos problemas que verdadeiramente assolam aquele grupo,concentrando-se em protestos e afirmações deste género,deixando o mais importande de lado : Apoio ao clube ! (Algo que se tem verificado nestes ultimos anos,em alguns grupos espalhados pela Europa fora).
A modernização do futebol tem sido tão vasta,que começou a alcançar o mundo dos Ultras,a tentar explorar um novo filão.Porém,tal como nos famosos livros infanto-juvenis de Astérix "todo o movimento?nem todo,há uma pequena parte que se mantém irredutível na sua luta..".
É essa "pequena" parte,são esses Ultras,que aqui pretendo louvar,independentemente das cores,idades,sexo,nacionalidade...Ultras,modo de vida (e não forma de negócio).

quarta-feira, outubro 17

Ultras também são gente...

"Só mancham o futebol,são uma vergonha,quem são eles??" Vários comentários como este e outros da mesma estirpe,são proferidos por muitos adeptos,analistas,jornalistas,enfim,a sociedade,tudo com uma ideia pré-concebida sobre os Ultras,muitas vozes de protesto..."..quem são eles?"..
Os Ultras também sentem ! Os Ultras passam frio,os Ultras passam fome,os Ultras passam dificuldades económicas,os Ultras sentem medo também,os Ultras são filhos(as),são pais/mães,são irmãos(as),os Ultras são colegas de trabalho,são pessoas que tal como o mais comum dos cidadãos que vai ao café ou vai no metro a lêr o jornal distribuido gratuitamente,os Ultras estão em festas,os Ultras também vão às urnas,também amam e odeiam,os Ultras são Homens como os demais,que passam por tantas situações do dia a dia como aqueles que os contestam,os Ultras só não passam por uma coisa....Sem os seus clubes,sem o futebol.
Os Ultras têm os mesmos direitos e deveres de todos aqueles que são parte do mundo,os Ultras não exigem tratamentos especiais...os Ultras só exigem liberdade ! Liberdade para serem quem são,liberdade para poderem viver sem descriminações injustas.
Se os Ultras são HUMANOS,porque insistem as forças policiais e os média,em tratá-los como Objectos?Como animais...
Os Ultras não se revoltam por viverem em sociedade,revoltam-se por quererem os coibir de ser parte da sociedade.

Liberdade para os Ultras !

"Toda a pessoa é inocente até prova em contrário,compete à justiça proteger os cidadãos,não os criminalizando,sem terem executado crime algum". - Legalização? Porquê ? Que fizemos nós de ilegal ?

Confissões pt2....


"[...] era um domingo perfeito,com bom tempo,uma boa almoçarada com "nostri bambini" (os nossos rapazes) e jogo da Cavese pela noite dentro,tudo perfeito...melhor programa era impossivel.
[...]sei que a certa altura tinha me ausentado das imediações do estádio para socorrer um companheiro que tinha sido apanhado isolado,nem pensei duas vezes,nem me passou nada pela cabeça,agarrei em mim e disparei ao seu encontro.Foi triste ver um companheiro,um grande amigo meu naquele estado,mas a preocupação na altura era tira-lo dali e levá-lo a receber assistência,tinha a cabeça rachada,possivelmente o braço esquerdo também,queixava-se muito...a cara tava feita num bolo,irreconhecível...foi aí que fui pego de surpresa,por momentos esqueci-me que tava exactamente no "território" deles,senti um ligeiro arrepio na espinha,o nervosismo está sempre lá...tinha 30 à minha frente,30 ou mais,nem os contei bem,só via gente a avançar e tudo com as cores deles...era eu e um ferido contra eles...não há piedade,aceito isso,mesmo que seja meio cobarde..mas de cães sem honra,não espero nada...lembro-me de ter feito uma pequena reza mental e ter dito "Estás sempre comigo mãe" e avancei....inicialmente fui meio mal tratado,mas felizmente os nossos "Boys" foram prontos a acudir e quando dei por mim,tavamos a meter aqueles gajos pra correr dali pra fora.
Seja como for,senti algum receio,mas foi bom,voltaria a avançar novamente se fosse hoje,sabia os riscos,senti o medo...mas "puttana",que adrenalina..." - Franco Siani,dos Acid Boys (Ultras Cavese,a relatar um episódio de confronto com ultras da Salernitana,em Salerno,Itália.

Confissões...


"Amo o futebol,amo a minha curva,amo perder-me entre as suas cores,amo o espírito que reina pela cidade numa tarde de domingo,amo a minha terra,amo esta família,amo o Avellino.
É assim que sou,é assim que morrerei,são sentimentos inabaláveis,que não controlo nem deixo me controlarem,não dá para mudar a minha essência..se isso fosse possível,então estaria a perder a minha identidade,estaria a tornar-me noutro Frank.Gosto de ser como sou,acordar,ver-me ao espelho e acima de reconhecer o meu rosto,sentir-me ciente do homem que sou." - Frank Pennisi,"capo" dos Ultras do Avellino,Itália.

De faca....e sem garfo.

Confrontos leais..algo que é exigido e proclamado por larga maioria dos Ultras e Casuais espalhados pela europa fora.
Hoje em dia,os confrontos não são tão "leais" como o eram na década de 70/80,hoje os confrontos chegam a ser verdadeiros combates de guerrilha urbana,onde não só o uso dos punhos se faz sentir,mas cada vez mais o uso das lâminas,bastões...
Não que antigamente ninguém usasse,também havia casos,é de relembrar que em Itália,o uso do cinto como "arma" é prática recorrente e tradicional..
O uso da faca também é hoje em dia uma realidade.
Maioria censura e condena o uso de facas em confrontos,por questão de equilíbrio,não lhes parece justo alguém munido de uma lâmina de aço,contra alguém munido somente com os seus punhos,pele e osso..
E digo maioria,porém não digo unânimidade,isto porque,existe quem apesar das críticas existentes,seja apologista do uso da faca,por considerarem o combate entre rivais,como uma verdadeira guerra de inimigos,onde o objectivo final de ambos,é vencer,destruir o lado contrário,sair o mais ileso possível,causar o máximo de dano possível...a faca é um meio de defesa e ataque,a faca,apelidada por muitos,como "arma cobarde",é o meio que alguns usam naquilo a que referem como "para gente sem honra e respeito,a faca é tudo o que merecem"..uma posição radical,críticada,mas real,com a sua razão de ser...radical,como tantas outras posições adoptadas por muita gente,relacionadas com outros temas.
A faca é de facto uma arma branca,cujo uso deve ser sempre "em ultimo caso"...defendo o seu uso com esta base,correndo o risco,eu sei,de ser verozmente criticado pelos mais tradicionalistas que clamam por lealdade nos combates...são posições que se dividem e quis aqui deixar latentes.

Código de Honra


Há aproximadamente 2 anos,os Sconvolts (Cagliari),deslocaram-se da Sardenha até Nápoles,sem escolta (poucos o podem afirmar,ainda para mais em Nápoles,uma cidade de puro terror para as "tifoserias" adversárias) policial,aproximadamente 200 elementos.
Resultado? Confrontos...era inevitável..porém há que salientar que até aqui,eles não arredaram pé e encararam o touro de frente.
Os Napolitanos impuseram-se e conquistaram uma faixa dos Sconvolts.
Tirando a parte do "sem escolta policial em nápoles",esta poderia ser uma estória de uma qualquer deslocação de um qualquer grupo,inclusivé português,a diferença,vem agora...
Como acto de respeito pela coragem,bravura demonstrada pelos Sconvolts,em comparecerem sem escolta e manterem-se irredutíveis,os Napolitanos devolveram a faixa aos seus legítimos donos..nada de exposições cibernáuticas de fotos com comentários que glorificam o furto.

Gente de mentalidade....

terça-feira, outubro 16

Pequeno exemplo..

Palavra de apreço...

Aos que se mantêm irredutíveis na "luta" pela sobrevivência deste mundo,que se mantêm fiéis aos princípios pelos quais sempre se regeram,que não os trocam nem os vendem,aos que procuram apenas seguir a apoiar sem ter em vista a fama e o lucro,aos ultras e casuais que vão mantendo esta merda viva (apesar de andar moribunda).....aos verdadeiros Tifosi.



PS : anda tudo tão ávido de lucrar com tudo e todos,que não me surpreenderia que alguns blogs "proeminentes" já tivesse aderido a esta merda :
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Faça com que o seu blogue compense, colocando anúncios relevantes através do Google AdSense."

Se até as histórias já se vendem encadernadas,só falta venderem-nas "blogadas"....

"Ó avô, o que é um Ultra??"



O que é um Ultra?Esta é uma questão que muita gente que está do "lado de fora" do panorama ultra,costuma fazer aos de "dentro",tal como já algumas pessoas me perguntaram.De facto,os Ultras são um fénomeno social de tanta amplitude que não poucas vezes,lá surgem os meios de comunicação a falar neles ou sobre eles.
Hoje em dia,identificam os Ultras facilmente,como sendo todos os integrantes a uma claque de um qualquuer clube desportivo,alguns pela sua idumentária...menos mal,antigamente bastava alguém tar num estádio ou passar ao lado dele e pra eles já era Ultra.
Mas isto de indumentária Ultra, o que é?Isso existe sequer?Bem,para se saber o melhor é estabelecer-se a diferença entre Ultra e Casual...já aqui deixei num post,a origem da definição de "Casual",resta agora abordar o que é um Ultra e tentar diferenciar este conceito de Casual (ou não).
Pois bem,imensa gente tem uma noção do que é ser Ultra,alguns escrevem livros a relatar isso,outros publicam textos em sites,outros simplesmente "espalham a palavra"...em imensos sítios encontram-se definições de Ultra,bem como várias interpretações do que deve ser um Ultra.
Vejamos primeiro a palavra em si : "Ultra,do Lat. ultra : pref. de origem latina que exprime a noção de excesso, de passagem para além de um limite.",por aqui vê-se que Ultra envolverá sempre algo "excessivo",um "descontrolo".
No que consiste este descontrolo ? Bem,essencialmente em duas formas : a forma de sentir um clube e a forma de apoiar (aqui,tanto pelo excesso de apoio,se é que tal existe,como pela violência empregue).A violência aliás,depreende-se logo pela palavra,e na origem dos Ultras (mesmo com o propósito com que adoptaram tal palavra para caracterizar um certo tipo de Tifosi),a violência é provavelmente o elemento mais forte,que leva a que se opte pela palavra Ultra,sempre esteve associada,daí que a titulo pessoal,para mim,falar-se em Ultras Contra A Violência,é como falar-se em Produtores Vinícolas Contra O Vinho...não faz sentido sequer.
Porém é algo redundante limitar-mos o conceito de Ultras a esta definição gramatical e associação a um "extremo violento"(como disse,muitas opiniões sobre este tema existem,imensas divergem,isto porque não existe um conceito ciêntifico,ou seja,um conceito estabelecido,é tudo discutível e é sempre um conceito variável).

A minha ideia,aquilo que penso e sinto,que seja um Ultra,é que um Ultra,é um adepto de futebol fervoroso (ou hóquei,ou basket,visto hoje em dia,existirem muitos grupos dedicados ao apoio dessas modalidades),um fanático,alguém apaixonado pelo clube,alguém que apoia o clube incondicionalmente,que sente na pele as derrotas,que extravasa alegria com as suas conquistas,que sente preocupações pelo clube,como quem as sente por um familiar ou pelo seu trabalho em risco,alguém que acompanha o clube religiosamente.
Um Ultra,sente-se parte do clube,o clube é parte da sua forma de estar e ser,isto porque mexe muito com o nosso orgulho,honra,dignidade,lealdade,liberdade,ou seja,o clube é mais que um clube,é parte da sua identidade,é uma paixão louca,não é racional obviamente,nem peçam a um Ultra ou outro qualquer adepto fervoroso que racionalizem sobre a forma de sentirem o seu clube,porque as paixões nunca são lógicas,racionais...sentem-se,se fossem racionais,talvez evitássemos apaixonar-nos pelas pessoas erradas por vezes,mas não...a natureza humana é assim,há coisas que não dá para explicar e as que se sentem,são sempre as mais complexas.
Um Ultra defende as suas cores como um bom patriota defende o seu território,aquele senso patriótico que maioria de nós (felizmente,pena é não sermos mesmo todos) sente,também existe em relação a um clube no que toca aos Ultras,o clube representa a nossa cidade,o nosso ideal desportivo e social,o clube representa o povo e o povo somos todos nós,é daqui que parte muito o orgulho que um Ultra sente em relação ao seu clube,é por aqui que se justifica o exercício à violência.Um Ultra não escolhe ser violento,pode ser até uma pessoa pacífica,altamente pacata,porém,se tivermos de defender um amigo,um familiar,a nossa casa,o nosso país...aí o recurso à violência é quase inevitável,trata-se de defender o que é nosso,impedir que manchem e desonrem a nossa pessoa...nos Ultras,passa-se um pouco o mesmo,é defender o território (cidade ou cores,visto que muitos Ultras apoiam clubes que por vezes não são das suas respectivas cidades,daí dizer que eles representam igualmente ideais desportivos e sociais e não só o território) a que pertencem,é defender as suas convicções perante tudo e todos.
O confronto físico justifica-se muito por aqui,é um duelo de gente orgulhosa,disposta a defender os seus ideais e valores até às ultimas consequências..Em Inglaterra as ditas "Firms" combinam entre si muitas vezes esses combates,algo que a meu ver afasta-se desde logo dos Ultras,o facto de se combinar algo,pressupõe a existência de contactos,de convivência mínima com rivais,adversários,inimigos,pressupõe um planear de acções...Um Ultra não se relaciona com os seus mais aguerridos rivais,nem minimamente (como os ultras da juve e do hellas verona costumam dizer "Odiamo Tutti").Existem amizades porém,aqui já se abre uma discussão extensa,sobre se é correcto ou não,uns defendem a existência dessas amizades entre determinados grupos,outros (eu por exemplo) defendem que a amizade entre um membro do Grupo X com membros do Grupo Y ou do Grupo K ou Grupo F,é normal,tratam-se de amizades do dia a dia,todos nós temos amigos e muitos têm clubes diferentes do nosso e alguns podem até estar inseridos em claques rivais da nossa,não podemos confundir aí sim a rivalidade futebolística com a amizade que temos para com aquela pessoa,o respeito existente que transcede os grupos e os clubes,já amizades entre grupos,pressupõe uma certa admiração e outro tipo de questões,não sou muito apologista,isto apesar de apreciar grupos estrangeiros,porém criar laços de ligação Grupo entre Grupo...é diferente,não me encaixa lá muito bem,mas respeito quem o faça,cada um tem a sua interpretação.
Já abordei as características mais essencias do que é ser Ultra,porque Ultra não poderia ser só alguém que está inserido num grupo e canta e arma coreografias numa curva,quer dizer,vêmos imensa gente inserida lá e não é Ultra,as escolas de samba brasucas também armam coreografias e não são Ultras...Tal como Ultra não poderia limitar-se ao conceito teórico que explicitei,porque pelo excesso,aliás,paixão (é o que melhor descreve) que descrevi,podiamos estar a falar de muitos outros adeptos fervorosos que possuem esta paixão (existem,poucos mas existem) e estar a inseri-los no contexto Ultra.
Daí que Ultra é o misto da paixão e o corpo presente na curva,a apoiar através duma certa forma (bandeiras,estandartes,faixas,tochas,cânticos).
Um Ultra é alguém que se sacrifica imenso,é capaz de inventar uma doença tropical qualquer ao patrão,ficar até no fim do mês sem esse dia pago (se tiver de ser...aguenta-se) só para ir ver o seu clube jogar logo à noite..é capaz de faltar ao casamento do irmão,porque o seu clube joga em Amesterdão nesse dia (mero exemplo),é capaz (não é agradável,protesta-se,mas por vezes,temos de engolir algumas merdas) de largar 350 euros por um bilhete duma final europeia (há quem até chege a dar 100 euros por bilhete para a final da taça..porque aconteceu isto ou aquilo e a certa altura,ou é isso,ou não vê),é capaz de correr meia cidade atrás da claque rival (invadiram o seu espaço,proferem cânticos contra eles,querem o quê?bolinhos de mel?),é capaz de passar uma noite em branco,porque por algum motivo era totalmente impossivel ir ao jogo,colado à TV para ver os instantes finais do jogo...isto entre muitas coisas.
Aliado a isto,surge a UNIÃO que caracteriza os verdadeiros grupos,os mais fortes,gente desconhecida em torno duma causa comum,uma amizade que começa do zero muitas vezes e cresce para uma irmandade incontestável,uma lealdade imensurável...surge o culto pelo símbolo que envergam,um escudo pelo qual derramam lágrimas,sangue e suor,é o seu BI quase,é o rosto da sua convicção.
Isto,é um Ultra.

Costumamos distinguir Ultras de Casuais,deixo só a nota,de que maioria dos ditos Casuais,passou por algum grupo Ultra,posiciona-se junto a eles e sente igualmente a tal paixão,têm amizade entre si (cá está um grupo),só que o símbolo,escudo que defendem,é o da Lacoste,Fred Perry,D&G,Tommy Hilfiger...isto a meu ver...não tou a criticar ninguém,mas se virmos bem,é esse o escudo...o Casual distingue-se essencialmente pela indumentária,têm uma farda quase estabelecida,quando nos primórdios,o objectivo era adoptar essa indumentária para passar despercebido da imagem do skinhead hooligan (daí vem o termo casual),hoje em dia...passar despercebido é quase impossivel.
Aliás,um Ultra,podemos identifica-lo facilmente por ser parte dum grupo ou por estar a portar algum elemento que referencie o grupo ou o facto de ser ultra,porém,imensos não usam nenhuma insígnia do seu grupo ao peito,nem uma peça de roupa que refira o seu grupo,o seu clube...podem até não levar o caxecol consigo (pouco provável) ou este simplesmente não estar visível...um individuo que use uns sapatos de vela da Rockport,umas calças de ganga,uma camisa da Gant (mero exemplo),é o que ?Provavelmente presumiriamos que não era nada "não tem roupa estilo casual,nem tá com nada de grupos,nem tem pinta de Ultra...é só um beto boneco"..e vai na volta é integrante do núcleo dum grupo Ultra qualquer,já o individuo com ténis da Lacoste,calças de ganga Pepe Jeans,um polo da Tommy Hilfiger e um bomber da Lonsdale e um chapéu de padrão axadrezado da Burberry...parece-me a mim demasiado óbvio para passar despercebido,logo,o conceito inicial de passar despercebido,hoje em dia,já não existe..resume-se a um apreço pelas ditas roupas,não critico,cada um usa o que entende,e muitos de nós usam as suas roupas de umas ou outras marcas...mas isto,só para referir que actualmente,o que distingue um Ultra e um Casual,é uma mera questão estilística.Porque a dedicação existe,a paixão está lá,a paixão de um Ultra (sem o ser em termos práticos,de ser integrante dum grupo assumidamente Ultra).

É isto um Ultra,é esta a sua paixão,ou como diria a Amália : "Estranha forma de amar"

domingo, outubro 14

Here come the boys...

Uns criticam,outros cultivam..mas a verdade é que a internet é hoje um veículo de informação irrepreensível,inclusive no mundo ultra/casual/hooligan,seja por sites dedicados a cada um desses segmentos,seja por videos..a verdade é que a cultura há muito que invadiu o mundo dos cibernautas,servindo a uns para ganhar contacto com realidades exteriores e servindo para outros,fomentarem quezilias,intrigas,especulações.
Independentemente de tudo isso,a verdade é que isto é mais um reflexo do crescimento de culturas urbanas,o culto das curvas.

Aqui ficam 3 videos dos Copenhagen Casuals :

Video 01 :



Video 02 :



Video 03 :

De cultura a moda...

Ora bem,para os mais desatentos ou leigos na matéria,no post anterior foi feita uma pequena explicação de como começou a dita "cultura casual" ou como terá surgido o "embrião" de tal cultura.
Esta cultura não passou ao lado de Portugal,pelo contrário,tem ganho forte adesão nos ultimos anos,após o "boom" do movimento ultra por cá (boom no sentido de gente a aderir a grupos ultras,o que não quer dizer que seguissem uma verdadeira linha ultra),uma moda que ainda hoje vai tendo expressão.E aqui falo em moda,porque...de facto é o que mais se vive por cá,gente que se faz "Ultra" porque o conceito de ultra virou quase um estatuto social,um símbolo de uma nova cultura urbana,isto é...ser ultra hoje em dia,é um pouco como ser fã de musica pop há 15 anos...é "fashion".Dentro daquilo que poderiamos denominar como os padrões de "moda" urbana (Betos,Freaks,Dreads,Góticos,Metaleiros) o conceito de "Ultra" passou a ser mais um.
Obviamente que ainda existem "Ultras" por cá,que o são não por moda,não por tendência,mas por paixão,dedicação,por ser parte da sua forma de estar na curva e fora dela.
Já a cultura casual,é um caso típico de "moda urbana",não está propriamente associado a uma linha de pensamento,a uma forma de apoiar,mas sim a um código de vestuário,uma imagem...Como uma vez um amigo meu me disse "bando de putos queques com pasta em demasia,não sabem o que fazer a ela e andam práqui a pavonear-se com os seus bombers da moda e ténis lacoste"..Imagem recorrente.
Por cá,temos esta dualidade,a moda ultra e a moda casual...as grande críticas dirigidas a estas modas,é o facto de não passarem disso,não estarem interligadas a convicções por parte de quem as segue,isto mais precisamente à moda ultra,onde essencialmente muitos jovens têm vido a identificar-se como ultras,quer porque esteja na berra ser membro de determinado grupo (estatuto social),quer porque seja a melhor forma de se rebelarem,de se protegerem,de sentirem as costas guardadas,isto porque, a moda casual,convenhamos,não haverá grande substância para a definir,nem tem grande explicação ou "filosofia" por trás de si,é moda..é uma questão estilística,tem somente a ver com as roupas,nada mais.

A história inicial...

"Anos 70/80,clubes ingleses como o Nothingam Forest,Liverpool,Everton,West Ham andavam pela grande roda do futebol europeu (competições europeias),seguidos pelos seus mais acérrimos defensores e fiéis adeptos,nos quais,uma boa parte era integrante das denominadas "Firmas" (firms).Foi aqui que a "cultura casual" começou a ganhar expressão,com estes adeptos a virem dessas jornadas europeias,"recheados" de roupas de grandes marcas europeias,fruto de saques,ocorridos nos episódios de violência.Em Inglaterra a polícia estava tão preocupada em procurar por fãs skinheads que usassem botas da Dr.Martens,que não se apercebiam que no meio dos grupos "hooligans" surgia uma nova tendência : adeptos de futebol envergando roupas formais,roupas de alguns dos melhores designers italianos e franceses.
Fila, Stone Island, Fiorucci,adidas, Pepe, Benetton, Sergio Tacchini, Ralph Lauren, Lyle & Scott, Le Coq Sportif, Ben Sherman, Fred Perry, Lacoste, Kappa, Pringle, Burberry,Slazenger e Lonsdale,foram algumas das marcas proeminentes na cultura casual durante a década de 80.
Com os anos 90,esta cultura sofreu uma "mutação",com os "Casuals" a adoptarem um visual quase uniforme,isto é,era comum encontrar em todos os clubes ingleses,adeptos envergando peças de vestuário da Stone Island, Aquascutum e Burberry bem como Lacoste e Paul & Shark.
No final dos anos 90,muitos destes casuais,procuraram afastar-se das marcas consideradas como "visual casual",isto porque este visual tinha entretanto atraído imensas atenções,já não passando tão despercebidos aos olhos dos "Bobbies".
Devido às tentativas da polícia de associar o logo da Stone Island à versão neo-nazi da cruz celta,outras marcas menos associadas a padrões de tal natureza,ganharam proeminência,tais como : Prada, Façonnable, Fake London Genius, One True Saxon, Maharishi, Mandarina Duck, 6876, e Dupe."